O
diário do
Che - O
Diário de campanha do "
Che" Guevara ficará como um dos livros mais fascinantes do nosso tempo.
Cuba
prestou homenagem ao mítico guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara
no 83º aniversário de seu nascimento, com a publicação, nesta
terça-feira (14), de um diário inédito que relata passagens de sua vida e
da luta que levou ao poder Fidel Castro, em 1959.
O
Che "nos faz falta em Cuba, com sua capacidade de trabalho, de
planejar, de convencer as pessoas. Lembramos que, em três anos,
inaugurou mais de 30 fábricas e projetava outras 30", disse Oscar
Fernández Mell, quem o acompanhou como médico e guerrilheiro durante
toda a campanha em Cuba e no Congo (1965).
Fernández Mell, de 80
anos, recordou que a época em que Che foi presidente do Banco Nacional —
nos primeiros cinco anos da revolução — foi a "mais frutífera e
gloriosa" da instituição.
A pesquisadora María del Carmen Ariet
explicou que Guevara foi um forte crítico dos países do bloco soviético,
conforme o refletido no livro "Apuntes Críticos a la economía
política", publicado em 2006.
O presidente de Cuba, Raúl Castro,
quem substitui o irmão Fidel, desde julho de 2006, impulsiona um
programa de reformas para tornar eficiente o esgotado modelo econômico
cubano, de inspiração soviética, tentando descentralizá-lo e terminar
com o paternalismo estatal.
O
diário, publicado pela editora australiana Ocean Press/Ocean Sur, é
encerrado com a batalla de Santa Clara (280 km a leste de Havana) no
final de dezembro de 1958. Fernández Mell aproveitou para refutar o que
chamou de "desvio" histórico, que atribui a Guevara "centenas" de
fuzilamentos de militares e policiais da ditadura de Fulgencio Batista
(1952-58) na fortaleza de Cabaña, em 1959, depois do triunfo da
revolução.
O livro foi preparado pelo Centro de Estudos Che Guevara.
Fonte: Zero Hora
Importância do registro
A
frase “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás” caberia
hoje em um Twiter e muito já diria da personalidade do argentino Ernesto
Che Guevara. O Che se tornou mito porque, mesmo pegando em armas e até
matando, tinha sensibilidade social e viveu por um mundo que considerava
melhor, desprendido de bens materiais e até da família. Mesmo quem tem
ojeriza pelos seus métodos violentos não duvida: o contexto faz o homem,
e o “homem novo”, o ser humano ideal do Che, vivia em meio à Guerra
Fria, entre dois mundos armados até os dentes.
Sejam quais fossem
seus métodos e até seus pouco rígidos hábitos de higiene, ele se tornou
herói de uma juventude porque queria o bem. Enfim, o “Hay que
endurecer...”, que aparentemente poderia ser lido como uma contradição,
ficou consagrado como a síntese de uma personalidade complexa.
Por
ora, o diário mais conhecido do Che trata das suas andanças pela
Bolívia, onde morreu, em 9 de outubro de 1967, executado por um militar
boliviano um dia depois de ter sido capturado.
De forma
fragmentada, também, Che publicou o livro Guerra de Guerrilhas (uma
espécie de manual sobre táticas guerrilheiras), em 1960, e Passagens da
Guerra Revolucionária, em 1963. Com o Diario de un Combatiente, um Che
real mais consolidado sairá da mata cerrada de Sierra Maestra, mostrando
quem foi o médico idealista que embarcou com Fidel e outros 80 homens
no barco Granma em 1956 e se enfurnou na mata até 1º de janeiro de 1959,
o dia da Revolução. Bom para a história. Bom para desvendar o mito.
leo gerchmann@zerohora.com.br
LEO GERCHMANN